No presente artigo pretendemos abordar a questão da existência de Deus no pensamento filosófico de Tomás de Aquino. Com o espaço limitado de um artigo, cumpre-nos discriminar quais são os passos que iremos seguir. Antes de tudo, procuraremos acentuar o lugar que Deus ocupa na vida e na filosofia do Aquinate. Depois, investigaremos a primeira questão, acerca de Deus, sobre a qual Tomás se debruça e a razão pela qual a antepõe a todas as outras. Posteriormente, esforçar-nos-emos por evidenciar que, segundo Tomás, a existência de Deus não é evidente para nós e que, portanto, precisa ser demonstrada. Em seguida, tentaremos deixar patente que a razão natural pode demonstrar que Deus existe, embora não possa conhecê-Lo tal como é em si mesmo. Feitas estas exposições, prosseguiremos tentando deixar claro que Tomás não é um “ontologista”, visto que, na sua demonstração da existência de Deus, não toma como ponto de partida a essência divina, mas sim os seus efeitos sensíveis. Dando seguimento ao nosso texto, esmeraremos por tornar notório que Tomás não é um “fideísta”, posto que defende que a existência de Deus pode ser admitida pela razão natural, que a alcança pela via demonstrativa propter quia. No bojo de tudo isso, e como conclusão de toda a nossa abordagem, esperamos atestar que a existência de Deus é o fundamento de todo o pensamento tomásico. Por fim, queremos fazer notório que, em Tomás, Deus não é somente uma questão teológica, mas também filosófica, tornando-se, desta feita, uma janela, uma porta, um caminho de universalidade e abertura, dentro do escopo da sua obra, para o diálogo com os não-crentes, posto que acessível também à razão natural.
Na nossa abordagem, privilegiaremos, entre as obras do autor – em ordem cronológica –, as seguintes: a Summa contra Gentiles (1258 a 1264), na tradução brasileira de Odilão Moura, revista recentemente (1996) pelo Prof. Dr. Luis Alberto De Boni; a Summa Theologiae (1266-1274) – obra-prima do autor – máxime na sua “Prima Pars”, composta entre os anos 1266 a 1272. Transitaremos por ela na nova tradução brasileira que recebeu – empresa de fôlego das Edições Loyola – e que resultou no aparecimento de nove volumes, entre os anos de 2001 a 2006. Também lançaremos mão de La Philosophie au Mon Âge. De Scot Érigène à Guilllaume d’Occam (1922), na versão modificada – La Philosophie au Mon Âge. Dès Origines Patristiques à la Fin du XIV – de 1944. A tradução que seguiremos, no caso, será a brasileira, feita por Eduardo Brandão e lançada pela editora Martins Fontes, em 1995: A Filosofia na Idade Média. Valer-nos-emos, ademais, da História da Filosofia Cristã. Desde as Origens até Nicolau de Cusa (1951) – parceria de Gilson com Philotheus Boehner – trazida para o vernáculo pelo saudoso Prof. Raimundo Vier, em 1970, a partir da edição alemã: Christliche Philosophie – von ihren Anfaengen bis Nikolaus von Cues (1952 a 1954). Disporemos, enfim, de: Storia della filosofia – Volume II: Patristica e Scolastica, do historiador da filosofia Giovanni Reale, em obra de alento feita em parceria com o filósofo da linguagem, Dario Antiseri, com tradução brasileira por Ivo Storniolo, editada pela Paulus em 2003.